Força-tarefa tenta recuperar imagem da ciência do clima

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Os ataques recentes à ciência do aquecimento global levaram a AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência) a convocar um simpósio de emergência em seu encontro anual, na Califórnia.

Na discussão, anteontem, os cientistas não chegaram a um consenso sobre como lidar com o problema, mas um pesquisador resumiu o que acha que vai acontecer: "A burocracia vai aumentar para os climatólogos".


O autor da frase é Gerald North, físico da Universidade A&M do Texas. Segundo ele, o impacto que dois eventos tiveram recentemente na pesquisa de clima deve estimular os próprios cientistas a aumentarem o cuidado ao tratar e repassar os dados que produzem, e isso deixará as atividades do setor mais trabalhosas.

Um dos casos foi o roubo de e-mails de cientistas da Universidade de East Anglia, Reino Unido, cujas mensagens sugeriam que pesquisadores se negavam a disponibilizar dados públicos sobre temperaturas a quem os pedisse.

Outro era um relatório do IPCC (painel do clima da ONU) com previsões exageradas sobre o sumiço de geleiras no Himalaia.

Dimensões
São dois eventos pequenos perto do grande volume de pesquisa feita sobre clima, mas foram suficientes para que jornalistas, políticos e pesquisadores descrentes do aquecimento global lançassem uma onda de ataques sem precedentes.

"Isso realmente abalou a confiança do público sobre a condução da ciência, conforme mediram várias pesquisas de opinião, levantamentos, editoriais em jornais e reportagens", disse o presidente da Academia Nacional de Ciências dos EUA, Ralph Cicerone.

"Não estávamos preparados para isso", disse North, encarregado pela academia de auditar trabalhos polêmicos em climatologia em busca de fraudes.

"A imprensa não está interessada naquilo que toda uma comunidade de cientistas tem a dizer. Uma história sobre erro ou fraude, claro, é muito mais sedutora", diz ele.

Inspetores
O físico afirma que os cientistas do clima terão de se preparar agora para trabalhar sob vigilância total, caso a climatologia queira recuperar a credibilidade pública que perdeu.

"Não sei se agora, quando pesquisadores forem escavar amostras de gelo no Ártico, alguém vai pôr um inspetor em cima do ombro deles", disse North à Folha. "Talvez não seja uma ideia ruim, mas aumentará os gastos com pesquisas. Se for algo feito no interesse da transparência e do controle de qualidade, será uma boa coisa."

Sugerir um sistema de vigilância para profissionais que estão acostumados a trabalhar com extrema liberdade não foram as únicas palavras duras proferidas durante o encontro da AAAS em San Diego.

O biólogo e ex-frade dominicano Francisco Ayala falou em dar um fim à "era da inocência" para os cientistas que ignoram que precisam trabalhar na fronteira entre conhecimento e divulgação do conhecimento.

Ayala experimentou isso na própria pele, tendo sido um dos principais defensores da teoria da evolução contra ataques de criacionistas nos últimos anos.

Neutro
A declaração ganhou apoio de Sheila Jasanoff, da Universidade Harvard, que estuda o assunto. "Nós vimos o IPCC declarar que fazia um trabalho "politicamente neutro" apesar de ser "politicamente relevante", mas cientistas sociais que conhecem essa área logo reconheceram isso como algo de um trabalho nessa fronteira."

O geneticista Philip Sharp, do MIT, Prêmio Nobel de Medicina, também foi convidado para o simpósio por ter coordenado um relatório da academia de ciências sobre boas práticas com manuseio de dados. "Não acho que isso seja algo em que a comunidade científica esteja investindo bem", disse.

Críticas à parte, nenhum dos pesquisadores no simpósio atacou o consenso da climatologia, segundo o qual o aquecimento global existe e é causado por humanos.

Aberta a sessão de perguntas, quando um espectador começou a elencar aquilo que seriam provas da inexistência da mudança climática, cada um dos convidados à mesa explicou por que confiava na ciência do clima.

Folha de São Paulo
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