Países precisam discutir "re-carbonização" do solo, diz Al Gore

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A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) recebeu no dia 13/10 o ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore, que debateu com empresários, ambientalistas e lideranças políticas seu “pensamento verde”.

Al Gore alertou que depois das discussões da 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP-15), que ocorrerá em dezembro, na Dinamarca, o mundo terá que se voltar para uma questão ainda não discutida: a re-carbonização do solo.

Segundo ele, o processo de tornar fértil novamente o solo utilizado para a agricultura é o que garantirá sustentabilidade. “Os povos indígenas da Amazônia já enterram matéria orgânica e obtém uma terra preta, que é a mais fértil”, explicou.

Clima
“A crise climática representa uma emergência planetária e um desafio para nossa inteligência moral”, afirmou Al Gore. Na “corrida contra o tempo”, ele reconhece que há algum progresso, mas que é preciso traduzir em aplicabilidade as ambiciosas metas dos países.

Na discussão sobre mudanças climáticas, Al Gore destacou três pontos que considera cruciais:
- O aumento da população mundial, que há 100 anos era de 1,6 bilhão e saltou para 6,8 bilhões, atualmente;
- Novas tecnologias, que está “um milhão de vezes mais poderosa”, como exemplo a artilharia que foi substituída por armas nucleares;
- Modo de pensar, que contempla horizontes no curto prazo, seja na política, economia, cultura, mídia etc.

Brasil
Al Gore não poupou elogios ao programa brasileiro de biocombustíveis, à produção de carros com tecnologia flexfuel (bicombustível) e às chamadas “tecnologias verdes” utilizadas pelo agronegócio no Brasil.

“Tenho que dar meus parabéns pela indústria de etanol e pela poderosa presença do Brasil na indústria automobilística. A indústria de São Paulo e do Brasil teve um forte de papel de liderança e mostrou que precisamos ir longe e rápido”, salientou.
Ele revelou que seu próximo livro, “Our Choices” (Nossas Escolhas), que será lançado daqui a três semanas, trará fotos da produção de etanol.

Desmatamento
O norte-americano evitou criticar o desmatamento da Floresta Amazônica, ao reconhecer que os Estados Unidos têm muitos problemas relacionados ao meio ambiente. Entretanto, enfatizou que os brasileiros precisam reconhecer que a floresta tem outros valores além do da madeira.

Líderes
“Tenho orgulho da relação entre os nossos países, que é muito boa”. Apesar de admitir o pioneirismo do Brasil na produção de biocombustíveis, Al Gore, defende que o papel de líder ocidental seja dividido com os Estados Unidos, que também produzem etanol em larga escala a partir do milho.

Entretanto, a própria Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) reconhece que o etanol de milho reduz em apenas 20% os efeitos poluentes da gasolina, enquanto o etanol brasileiro de cana-de-açúcar apresenta redução de até 90%.

Legislação
Em processo de análise pelo Senado dos Estados Unidos, a lei que prevê ações de mitigação das mudanças climáticas naquele país ainda está sendo negociada. “O papel dos EUA e da China, os maiores poluidores, são cruciais neste debate”, afirmou.
Al Gore acredita que a lei será aprovada antes da COP-15, mas não será suficiente. “Ela está na última etapa de negociação entre deputados e senadores e qualquer alternativa à lei seria inaceitável”, ponderou.

Lucas Alves, Agência Indusnet Fiesp
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