Copenhague e a forca

Ecoturismo & Sustentabilidade

Agora que naufragou a Cúpula do Clima que, de todo modo, vai se reunir em dezembro em Copenhague, vale resgatar alguns pontos que devem ser salvos do naufrágio.

Ponto um, disparadamente o mais relevante: É preciso cravar o limite de 2º como o aumento máximo da temperatura global, se se quiser evitar as catástrofes que os especialistas anunciam.

Esse limite foi aceito pelas chamadas Grandes Economias (17 países que respondem por quase todas as emissões dos gases que causam o aquecimento global), em encontro realizado em L'Aquila, na Itália, como complemento da reunião do G8+5+1.

O problema é que esse tipo de encontro define apenas intenções, não compromissos vinculantes, como os que deveriam ser adotados em Copenhague, se a reunião na Dinamarca não tivesse "flopado", na precisa ironia de Claudio Angelo, o editor de Ciência da Folha (vale ler o texto, só para assinantes).

Se todos os grandes estão de acordo, inclusive Estados Unidos e China, responsáveis mais imediatos pelo colapso de Copenhague, não há porque não pôr no papel esse número.

Como se faz para cumprir o limite é outra história, bem mais complicada, tão complicada aliás que levou ao fracasso antecipado de Copenhague. De todo modo, ganha-se tempo para que haja algum acordo sobre as medidas necessárias para que a temperatura não ultrapasse o teto do, digamos, sentido comum.

Ganha-se tempo também para que, de repente, o Congresso norte-americano aprove o pacote climático do presidente Barack Obama, o que mudaria os termos da negociação para o principal emissor de gases e, como tal, o país vital para qualquer acordo.

Outro ponto que deve ser preservado é a meta que o governo brasileiro demorou mas fixou com vistas a Copenhague. Não apenas reduzir o desmatamento em 80% - sempre lembrando que o principal vilão ambiental, no Brasil, é o desmatamento-, mas também cortar perto de 40% das demais emissões em relação ao que aconteceria se mantida a tendência atual.

As metas foram definidas como um compromisso do país para consigo mesmo, com vistas a Copenhague, mas não necessariamente como parte de um pacote a ser aprovado na capital dinamarquesa. Por isso mesmo, haverá forte tentação de rever as metas, agora que Copenhague perdeu o caráter de "agora ou nunca" ambiental.

Até porque reduzir as emissões tem custos, e elevados. O próprio presidente Lula, que arbitrou as metas ante as divergências entre ministros, tem dito que só o corte em 80% no desmatamento exigirá um esforço "incomensurável". Imagine, então, cortar também as demais emissões.

Por fim, é fundamental que o mundo não perca o sentido de urgência que desperta toda conferência teoricamente decisiva. Alguém já disse que a visão da forca concentra as mentes. Transformar Copenhague em uma espécie de grande tertúlia ambiental pode desconcentrar as mentes e fazer esquecer que a forca do aquecimento global continua no horizonte.

CLóvis Rossi
Folha de São Paulo
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