Ecoturismo & Sustentabilidade
"Blim, blom, blim, blom! Bimbalham os sinos!" Todos os anos, desde que eu me entendo por gente, dou um jeito de escrever a frase anterior, encaixando-a em qualquer lugar.
Remonta o fenômeno ao primário no Colégio Mello e Souza, no Rio, onde minha composição de Natal começava invariavelmente com a frase que me persegue, ou que eu persigo, conforme queiram, desde tenra alfabetização.
Pouco me importava o fato de não haver sino nenhum a bimbalhar qualquer coisa em lugar algum. O importante, tal como o Natal, era e é o espírito da coisa. Eu devo ter lido em alguma cartilha ou ouvido no rádio na voz de algum cantor. A verdade é que aquilo me pegou e, nesta época do ano, esteja eu onde estiver, no posto 4 e meio da praia de Copacabana, ou na South Kensington, de Londres, eu digo para mim mesmo, canto interiormente (é meu "White Christmas", na voz de Bing Crosby) e taco ficha em escrito meu para a BBC, a frase essa que citei e volto a citar para marcar a ocasião:
"Blim, blom, blim, blom! Bimbalham os sinos!"
Agora, deixemos de presepadas e vamos aos fatos. Papai Noel não existe, não passou pela simpática Dinamarca, não garantiu a salvação de uma única árvore, pinheiro ou não, pelos próximos dez anos, mas deixou sua pegada ambiental e de suas renas entre as firmas que alugaram 1200 limusines para os distintos presentes. Foi uma festa!
Não, o planeta não está a salvo. Mas estamos acostumados a conviver com o perigo e não há de ser por causa de algumas centenas de madeireiros marotos e outros milhares de personagens poluentes que vamos agora afobar e sair por aí gritando, "Catástrofe! Catástrofe!". As Nações Unidas continuarão seus trabalhos, novos representantes serão nomeados, limusines serão alugadas.
Ao fundo (eu insisto, não desisto), "blim, blom, blim blom! Bimbalham os sinos!". Fiquemos em torno do pinheiro de matéria plástica na sala, todo decorado com enfeites ambientais, e vejamos o que é que está dando por aí. Digo "dando" no sentido de presentear, conforme a tradição natalina. Saio do sério e meto-me, se não a fazer, ao menos a ler listas.
Os presentes mais populares este ano aqui no Reino Unido são, claro, os malditos celulares agora incrementadíssimos. Os mais jovens, ou adultos meio bobos, ganharão videogames. Pelo que vejo na TV, perfume tanto para homens e mulheres de todos os sexos continuam muito populares. Notei apenas que os comerciais para homens são geralmente em branco e preto e os para mulheres em cores. Que quer dizer isso? Umberto Eco me explicaria. Eu só sei fazer blimà Mas deixo isso para lá. Obsessão (aliás nome de perfume masculino) não pega bem com Father Christmas. Que é como os ingleses chamam Papai Noel, embora, com a americanalhização que varre constantemente estas ilhas, eu já tenha ouvido mais de uma vez Santa Claus, uma invenção holandesa baseada em Sinterklaas, ou São Nicolau, e visualizado, até mesmo nos brasis, segundo padrões ditados pela Coca-Cola.
Ainda a americanalhização: assim como o Halloween (Raloim, procêis) pegou aqui, há cerca de 20 anos (dá dinheiro), sem outra razão que não o ouvir na televisão ou no cinema, as pessoas já se desejam Merry Christmas e não o tradicional e mui britânico Happy Christmas. Sim, eu sei, não é muito importante, mas para alguém que vive bimbalhado por sinos, feito eu, essas coisas contam. E muito.
Seja como for, informo que uma nova moda se alastra por aqui e redundará (redundará?) em presente de Natal garantido: os monóculos. É, voltaram à moda. Informação prestada pela Vision Express, a maior cadeia de oculistas do Reino Unido. Eles vêm com uma correntinha para por em torno do pescoço e uma bolsinha para guardá-los. Já pedi para Papai Noel deixar um monóculo em meu sapato, já que não deu mesmo para salvar o globo terrestre.
Apreciarei a catástrofe como um vilão de James Bond: de monóculo e cantarolando "Blim, blom..." etc.
Ivan Lessa
Folha de São Paulo
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