Tecnologia santista produz pneu ecológico




O Brasil comercializa hoje mais de 18 milhões de pneus reformados. É um mercado que não sabe o que é crise, impulsionado por um preço até 60% inferior a um novo. Além disso, um recauchutado representa uma economia de mais de 70% de energia e matéria-prima, em razão do reaproveitamento da carcaça. Mas poderia ser melhor, caso a indústria brasileira adotasse uma tecnologia criada na Baixada Santista.


Para dar vida nova a um pneu velho, uma nova banda de rodagem é adicionada, chamado de vulcanização, onde a carcaça é colocada em um forno, onde altas pressões e temperaturas em torno de 150ºC irão unir as duas partes.

Ao final de um tempo pré-determinado, o pneu é retirado e analisado visualmente. Em média, 10% deles se perdem por diversos tipos de defeitos, desperdiçando matéria-prima e energia. Além disso, os fabricantes costumam trabalhar com uma margem de erro de 20% no tempo de cozimento. Isso significa que o pneu fica mais tempo no forno, gerando ainda mais desperdício.

Ponto ideal
Com todos esses dados em mente, o pesquisador santista José Pedro Souza decidiu mudar essa história. Para isso ele criou um método que se baseia em determinar, com a maior precisão possível, o ponto ideal em que o processo de vulcanização ocorre. Milhares de testes foram feitos em laboratório e empresas do ramo.

Todas as informações foram então reunidas, analisadas e cruzadas estatisticamente, dando origem a um software. Este, por meio de sensores que ficam em contato com o pneu, controla todo o sistema de produção. Resultado: uma redução de até 30% no tempo de ‘cozimento’.

Para um País que detém o 2º mercado mundial de recauchutados e nada menos do que 80% da produção na América Latina, a economia proporcionada pelo sistema santista é, no mínimo, considerável.

“Caso todas as reformadoras de pneus do País adotassem o novo método, haveria uma economia de energia elétrica suficiente para abastecer uma Cidade do porte de Santos por um ano”, afirma Souza, que é químico e especialista em controle de qualidade.


Sucesso
A tecnologia, desenvolvida na Incubadora de Empresas de Santos, enfrenta, agora, seu maior desafio. Ela vem sendo testada por um grande fabricante do setor, em Jaboticabal (SP).

“Fizemos o primeiro teste na semana passada. Conseguimos reduzir significativamente o tempo de produção e a energia despendida. Agora, vamos testar o pneu na rua”, afirma o diretor comercial da empresa, Diogo Roncato Sagula. “Se der certo, será um grande avanço para o setor”.

Para Souza, o sucesso é um reconhecimento pelos quase 20 anos de pesquisas. “Foi difícil, enfrentei muito descrédito”, afirma, relembrando que tudo começou graças a um profundo sentimento de insatisfação. “Eu sabia que era possível fazer mais com menos”. E melhor.

A tribuna
Marcus Fernandes
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