O espírito de solidariedade de Santos não é mito nem lenda. Depois da passarela instalada no Canal 3 pela prefeitura, que permite o acesso de cadeirantes do calçadão até o mar, ela é uma das três privilegiadas cidades do litoral paulista onde já está em funcionamento o Programa Praia Acessível, do Governo do Estado de São Paulo, que garante às pessoas com dificuldade de locomoção o prazer de um banho de mar.

O programa oferece gratuitamente, para munícipes e visitantes, um tipo de cadeira de rodas, chamada de anfíbio, para o transporte de cadeirantes desde a areia até a água. O posto de atendimento foi montado na praia do Boqueirão, ao lado do Canal 3, junto à passarela, o que facilita ainda mais o acesso ao tão sonhado contato com a água salgada.

Implantado durante o Carnaval, em Santos, Praia Grande e Ilhabela, o Praia Acessível está beneficiando pessoas que há décadas não viviam a inesquecível sensação de estar na praia. A tenda no Canal 3 oferece três cadeiras anfíbio e instrutores que acompanham o usuário. Além disso, uma pessoa da família pode estar junto no banho de mar. As cadeiras são usadas por crianças e adultos e possuem cinto de segurança.

O Programa Praia Acessível está em funcionamento aos sábados e domingos, das 9h às 17h.

A santista Carmem Salgueiro, 42 anos, estava há 11 afastada dos banhos de mar, prazer que era comum na sua vida antes da descoberta da esclerose múltipla. Carmem é uma das assíduas do Praia Acessível na cidade. Neste domingo (14), foi a sexta vez que sentou na cadeira anfíbio e foi levada ao mar por um dos instrutores do programa. “Parece que voltei a ser criança de novo. É maravilhoso. Cheguei a sonhar com isso várias vezes”.

Carmem conta que frequentava a praia, mas ficava restrita ao calçadão. Pela dificuldade de manter o equilíbrio, era inviável um banho de mar sem a cadeira de rodas, o andador ou a ajuda de terceiros. “Primeiro foi a passarela, agora a cadeira anfíbio. Vou divulgar esse serviço no meu blog para que mais pessoas tenham acesso”. Em Santos, há 15 mil pessoas na mesma situação que Carmem, segundo a Code (Coordenadoria de Políticas para Pessoas com Deficiência).

De acordo com Poliana Borges de Godoy, coordenadora do posto santista do Praia Acessível, o programa deu tão certo que já está recebendo grupos de cadeirantes de escolas, de outras cidades da Baixada e até do interior do Estado. É o caso das irmãs Cintia e Carina, de Santo André, que vieram neste domingo passar o dia em Santos, na companhia da tia Nilza Martini. “É mais uma diversão para o deficiente”, disse a tia. Bastou ver o sorriso das duas meninas ao aproximarem-se do mar para entender o quanto elas gostaram do dia na praia.