Meta de corte nas emissões do Japão pressiona os EUA

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A promessa do futuro primeiro-ministro do Japão, Yukio Hatoyama, de cortar 25% das emissões de gases-estufa do país até 2020 em relação a 1990 cria um clima de pressão sobre nações ricas nas negociações para o novo tratado do clima. A medida anunciada anteontem, porém, deixou claro que, sem um comprometimento maior dos EUA, o bloco continuará muito aquém da meta apontada por cientistas como ideal.


Somadas todas as promessas mais ousadas do grupo de países que mais contribuiu para o agravamento do efeito estufa, apenas 15% dos gases-estufa seriam cortados até 2020. A ciência, porém, afirma que só um corte da ordem de 40% nesse período pode evitar que o planeta não aqueça mais de 2°C até o fim do século.

"É claro que o Japão não vai conseguir frear a mudança climática sozinho com sua redução de emissões", afirmou Hatoyama, líder do Partido Democrata, que venceu as eleições japonesas na semana passada. "A condição para a promessa do Japão à comunidade internacional é que todos os grandes países entrem em acordo para adotar metas ambiciosas."

O discurso pode ser interpretado como um recado aos EUA, o maior poluidor do mundo. O presidente Barack Obama, por enquanto, acena apenas com um corte de 17% das emissões até 2020. Essa meta devolveria as emissões dos EUA ao nível de 1990, ano de referência do Protocolo de Kyoto.

O anúncio arrancou elogios de ambientalistas. "É o primeiro sinal de liderança climática vindo de um país desenvolvido em muito tempo", disse Martin Kaiser, do Greenpeace.

O secretário-executivo da Convenção do Clima, Yvo de Boer, disse que "o panorama está ficando menos sombrio" para um acordo do clima em Copenhague, em dezembro, após o anúncio japonês.

Menos otimista, o chanceler britânico David Miliband pôs ontem pressão sobre os países em desenvolvimento. Essas nações, como China e Índia, são desobrigadas de metas por Kyoto. "Há um risco real de que as conversas marcadas para dezembro não tenham resultado positivo", declarou Miliband.

Ambição renovada
A promessa de Hatoyama é bem mais ambiciosa do que a do atual governo japonês, que não ultrapassaria um corte de 10% até 2020. Parte do discurso de campanha do democrata consistiu em negar que a economia do país sofrerá muito com os cortes de emissões.

"Lidar agressivamente com a mudança climática abrirá uma nova fronteira para a economia japonesa e criará empregos em áreas como carros elétricos e tecnologia para energia limpa."

A ministra do clima e energia da Dinamarca, Connie Hedegaard --anfitriã do encontro em Copenhague-- também se disse otimista com a guinada de posição no Japão. "É importante lembrar que o Japão já é um dos países mais eficientes do mundo em produção e consumo de energia", disse. "Ainda assim, isso mostra que é possível adotar uma nova e ambiciosa meta para redução de CO2."

Dentro do país, porém, a proposta de Hatoyama deve enfrentar resistências. A Keidanren, maior federação de indústrias do Japão, defende uma redução máxima de 6%.

Folha de S. Paulo com Reuters e "Independent" 
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