Prefeitura do Rio de Janeiro construirá um grande parque no lugar na Av. Rio Branco

Ecoturismo & Sustentabilidade

O projeto de um grande parque urbano com dois milhões de metros quadrados - o equivalente a 13 vezes a área do Campo de Santana - está sendo elaborado por técnicos da Secretaria de urbanismo para ocupar o espaço de uma das principais avenidas da cidade: a centenária Rio Branco. Apelidado de Rio Verde, o projeto prevê que a avenida e parte de suas transversais, no trecho entre a Candelária e a Cinelândia, sejam transformadas num imenso calçadão de pedestres, com chafarizes, quiosques, arborização e mobiliário urbano especial. Linhas de ônibus seriam remanejadas e teriam uma redução de 70% da frota, atualmente estimada em 1.800 veículos por dia. Táxis ganhariam pontos regulamentados em ruas secundárias. E, para desestimular o uso do carro particular, um sistema de transporte de massa, com veículos elétricos de grande porte, circularia pela região, tendo no itinerário as estações Cinelândia, Carioca e Uruguaiana do metrô.


O detalhamento do Rio Verde só fica pronto em dezembro, segundo o secretário de urbanismo, Sérgio Dias.

A previsão é que a licitação para as obras aconteça em 2010. O prazo de execução seria de dois anos. Os custos de implantação do parque - que tem estreita relação com a revitalização da Zona Portuária do Rio - ainda estão sendo calculados e seriam divididos entre poder público e iniciativa privada. O modelo econômico para viabilizar o projeto deve incluir a possibilidade de o vencedor da concorrência explorar serviços em regime de concessão.

Carros elétricos e esteiras rolantes
Para compensar a restrição ao transporte viário, a linha circular de passageiros com veículos elétricos teria duas estações de transferência: uma na Candelária e outra na Avenida Beira-Mar. Nesses locais, os passageiros vindos de outros pontos do Rio desceriam dos ônibus comuns e pegariam o transporte elétrico. Esse veículo passaria por ruas secundárias. Outros serviços acessórios, de bicicletas e carrinhos elétricos individuais a ecotáxis (carrinhos com dois lugares puxados por bicicletas), além de esteiras rolantes, completariam o leque de alternativas de mobilidade urbana.

Na Rio Branco só teremos gente, seja de salto alto, tênis ou sandálias de dedo. Outro dia, a Revista O GLOBO publicou a frase de um menino que dizia: "Mãe, olha ali um ônibus cheio de ninguém". Esse ônibus passa muito na Rio Branco e vai deixar de passar. Hoje você vê táxis em fila dupla esperando passageiros, numa deturpação da circulação que não pode continuar - diz Dias.

Segundo o secretário, a prefeitura quer dar um caráter ambiental à ideia, e para isso já começou a calcular o volume de substâncias poluentes que deixaria de ser eliminado na atmosfera se o projeto sair do papel e 70% dos ônibus forem tirados de circulação.

Toda a frota que passa pelo local, incluindo táxis, vans e automóveis, está sendo contabilizada. Com o novo parque urbano, a prefeitura decretará também o fim dos paralelepípedos das ruas do Centro: o piso será nivelado, eliminando os meios-fios.

O boulevard francês que rasgou a cidade
A Rio Branco foi inaugurada em 15 de novembro de 1905, com o nome de Avenida Central. Nasceu da vontade do governo federal de fazer com que o Rio, capital da jovem República, deixasse no passado sua feição colonial e se tornasse uma cidade moderna. Para isso, o então presidente Rodrigues Alves, que tinha entre suas prioridades o embelezamento e o saneamento do Rio, nomeou como prefeito o engenheiro Francisco Pereira Passos. Uma das principais obras do prefeito do "bota abaixo" foi justamente a abertura da Avenida Central.

Para rasgar a via ligando o novo Cais do Porto à Avenida Beira-Mar, foi necessário derrubar 641 imóveis. Para garantir o traçado reto, partes dos morros do Castelo e de São Bento foram demolidas. A avenida foi aberta em seis meses, num trecho do Centro que era um labirinto de ruas estreitas e mal arejadas, com cortiços superlotados e onde doenças como varíola e peste bubônica se alastravam.

Um concurso de fachadas impunha a condição de que os novos prédios se parecessem com os de Paris. Em 1912, a Avenida Central foi rebatizada como Rio Branco. Ao longo dos anos, a avenida ganhou prédios mais altos e perdeu os canteiros ajardinados, com lampiões, que dividiam as pistas.

Outra mudança também se observou com o passar do tempo: de lugar de passeio para homens de cartola e mulheres com vestidos de anquinha, a Rio Branco tornouse um importante palco de manifestações populares, como a Passeata dos Cem Mil contra o regime militar, em 68, e dos caras-pintadas em 93, pedindo o impeachment do presidente Fernando Collor. Os corsos - desfiles de carros enfeitados no carnaval - aconteciam lá. Até hoje, blocos como o Bola Preta arrastam multidões de foliões pela avenida

Inspiração em Times Square
A inspiração para o projeto de transformar a Rio Branco num parque surgiu em experiências realizadas no exterior, segundo o secretário Sérgio Dias. Uma delas, o projeto do prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que em maio determinou o fechamento ao tráfego da Broadway entre as ruas 42 e 47 e entre as ruas 33 e 35, em Manhattan. O tráfego na área foi deslocado para a Sétima Avenida. Em comemoração, turistas e nova-iorquinos levaram cadeiras e espreguiçadeiras para o meio da rua, local que normalmente ficava repleto dos famosos táxis amarelos.

Além de Nova York, Dias disse que se inspirou em projetos implantados em Boston, Londres e Barcelona. Em Londres, o núcleo antigo da cidade foi cercado por um sistema de pedágio, para diminuir os engarrafamentos.

- Em Times Square, hoje as pessoas podem aproveitar todos aqueles telões da área sentados em mesinhas. Mas não precisa ir tão longe: na Baixada Fluminense, em escala bem menor, várias cidades já fizeram seus calçadões - diz o secretário de urbanismo.

O Rio Verde, acredita Dias, requalificaria o comércio da Rio Branco, atraindo mais empresas e empreendimentos, como aconteceu na Rua do Ouvidor.
O Globo
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