Para proteger baleias e golfinhos, aparelho medirá poluição sonora marinha

Ecoturismo & Sustentabilidade

Quatro jovens pesquisadores da Universidade do Algarve (Portugal) criaram uma espécie de gravador digital para medir a poluição sonora submarina visando à proteção de baleias, golfinhos e peixes. O protótipo começará a ser introduzido no mercado em 2010. Cristiano Soares, Friedrich Zabel, Celestino Martins e António Silva são os quatro pesquisadores da Universidade do Algarve (UAlg) que arregaçaram as mangas para criar o seu próprio emprego e formaram recentemente a empresa MarSensing com o objetivo, entre outros, de medir a poluição sonora no mar.

O hidrofone digital autorregistante é autônomo do ponto de vista de energia e de armazenamento de dados, é um produto 100% português e a fase de construção e testes termina neste ano, explicou à Lusa Cristiano Soares, da MarSensing, "spin-off" do Laboratório de Processamento de Sinal da UALg.

O protótipo, que custou cerca de mil euros (sem a mão-de-obra incluída), vai ser introduzido no mercado em 2010 por meio de venda direta ao cliente, principalmente no site da empresa.

Os ruídos subaquáticos provocados por explosões durante obras marítimas, barulhos das explorações petrolíferas, mas também a poluição sonora provocada por cargueiros e petroleiros nos portos marítimos e nas suas rotas perturbam os animais marinhos e podem, nos casos mais severos, torná-los inviáveis, ou causar a morte de forma indireta.

Para os golfinhos e baleias, que comunicam por meio do som com diversos fins, como o acasalamento com recurso à ecolocalização (localização por ecos), é fundamental que nada quebre essa dimensão comunicacional.

Ruptura de ligações sociais, perda de sensibilidade auditiva temporária e permanente, maior cansaço dos animais por gastarem mais energia para se comunicarem e localizarem alimentos e aumento da morbidade são algumas das consequências.

"Existem relatos de baleias que foram avistadas em zonas do oceano onde supostamente não existiriam baleias, o que tem sido interpretado como uma fuga do ruído produzido por determinada atividade, ou mesmo pânico seguido de desorientação", diz Soares.

Os peixes também sofrem com a poluição sonora debaixo de água, ficando mais tensos.

"Um peixe estressado não se alimenta e não se reproduz", ressalta Soares, reconhecendo que esses fatos levam a uma menor quantidade de peixe, afetando toda a cadeia alimentar.

O protótipo português está em sintonia com a União Europeia, que aprovou uma diretiva em 2008 com objetivo de atingir metas de qualidade ambiental do ruído debaixo de água até 2020.

Cecília Malheiro
Folha de São Paulo
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