Copenhague ainda não morreu, diz Lula

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reluta em aceitar que a conferência do clima em Copenhague, em dezembro, deva terminar sem um acordo com metas para conter o aquecimento global, mesmo após os EUA e países asiáticos decidirem, domingo, protelar o compromisso ao menos até 2010.

Para Lula, que pela primeira vez afirmou veementemente que irá à Dinamarca, é possível reverter o último revés usando a proposta de cortes de emissão de gases-estufa colocada pelo Brasil na última sexta para pressionar os grandes emissores -EUA e China, sobretudo.

"Isso só pode ser resolvido quando sentarmos para conversar", disse o presidente em Roma, onde discursou na FAO (braço da ONU para alimentação). "Se o Brasil pode [assumir um compromisso de cortes], os EUA podem fazer muito mais."

Aparentando cansado e exibindo pouco da costumeira calma, Lula manteve os planos anunciados no fim de semana de telefonar ao americano Barack Obama e ao chinês Hu Jintao para lhes cobrar mais responsabilidade. Mas desta vez evocou o compromisso de Pequim com os demais emergentes e incluiu na lista o indiano Manmohan Singh.

"Não há lugar para pessimismo quando se está tentando tomar uma decisão que envolve os interesses dos Estados, o modelo de desenvolvimento de cada país", insistiu, ao ser questionado se o Brasil aceitaria um acordo esvaziado de números, apenas com vagos compromissos políticos. "O Brasil deu exemplo quando mostrou ao mundo que as metas brasileiras não são pequenas."

Aparentando cansaço e alguma irritação, o presidente procurou minimizar as declarações da delegação americana no fim de semana na Ásia, que na prática tornam a cúpula natimorta. "Se [Estados Unidos e China] não vão apresentar [meta] hoje, vão apresentar amanhã, se não amanhã, vão apresentar o mês que vem, se não no mês que vem, no ano que vem. Mas o dado concreto é que não tem como escapar. Todos terão de apresentar número, incluindo o presidente Obama e o presidente Hu Jintao."

Na última sexta, o Brasil anunciou um compromisso de, até 2020, reduzir suas emissões entre 36% e 39%. No dia seguinte, a delegação americana declarou na Ásia que Obama e outros líderes -incluindo o dinamarquês Lars Rasmussen- haviam decidido que não seria possível fixar números na cúpula em Copenhague.

A declaração pegou o governo do Brasil de surpresa. Funcionários de alto escalão do Planalto e do Itamaraty que acompanhavam o presidente em Roma amanheceram o domingo desinformados. A ministra Dilma Rousseff estava a caminho da capital dinamarquesa, onde apresentou ontem o plano brasileiro. Um dia antes, Lula cobrara Washington e Pequim, temendo um consenso bilateral que privilegiasse apenas interesses próprios.

Folha de São Paulo
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