Para combater seca, China manipula clima e força nevascas

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O desejo de atenuar a seca em Pequim e outras regiões do norte da China levou novamente os meteorologistas a manipular o clima e gerar fortes nevascas em novembro, o que contribuiu para antecipar o inverno e gerar uma grande polêmica pelos efeitos negativos que isso poderia causar.

Segundo disseram especialistas, o poder de fazer chover ou nevar, responsabilidade da Administração de Meteorologia da China e dos Escritórios de Meteorologia locais, é realizado no país "apenas com fins públicos", embora os resultados nem sempre sejam positivos.

As intervenções da China no clima aparecem com frequência na imprensa internacional por seu caráter espetacular, embora a Organização Meteorológica Mundial (OMM) admita que isso ocorre no mundo todo com certa frequência.

As mudanças só são possíveis se as nuvens tiverem certo nível de espessura, e perante determinadas condições de temperatura e umidade.

"Não é apenas um assunto de tecnologia, mas também da geografia, pois a costa e o interior não são a mesma coisa, assim como o norte e o sul", disse à Efe Guo Xueliang, diretor do Centro de Efeitos Meteorológicos Artificiais da Academia de Meteorologia da China.

"No plano quinquenal estabelecido, tivemos sucesso ao garantir, por assim dizer, a segurança, o bom tempo, em eventos importantes como os Jogos Olímpicos de 2008 e o 60º Aniversário da Nova China", afirmou.

Técnicas
Guo insistiu que a China não foi a primeira a usar o iodeto de prata, algo que faz desde os anos 50. "De forma diferente, porém, pois aqui utilizamos vários métodos como foguetes, canhões antiaéreos e aviões carregados com iodeto de prata", explicou o especialista.

Segundo Guo, nos EUA a chuva ou a neve são aumentadas para a irrigação, o esqui ou simplesmente para eliminar o nevoeiro; no Canadá, para que o granizo seja menor; e na Austrália ou em Israel contra a seca.

"A China utiliza tecnologia avançada de outros países, por exemplo para a prospecção, importada dos EUA", destacou Guo.

A nevasca provocada limpou o ar de muitas cidades, mas também originou problemas de trânsito terrestre e aéreo e queixas de moradores da cidade e do campo. "Isso só beneficia as crianças para brincar", disse uma jovem mãe, de sobrenome Cao.

Gripe
Embora a beleza do branco nos telhados de prédios tradicionais como na Cidade Proibida tenham melhorado a paisagem, a série de pessoas gripadas provou a chegada precoce do inverno.

"Não vamos perder oportunidades de conseguir precipitações com a grande seca que sofremos", disse Zhang Qiang, responsável pelo Escritório de Modificação do Tempo de Pequim.

Segundo reconheceram os meteorologistas consultados pela Efe, nem sempre é possível obter o efeito desejado, pois as características das nuvens precisam ser muito específicas.

A imprensa local conta que a polêmica foi aberta quando se soube que, nas duas nevascas, as mais precoces dos últimos 22 anos, houve intervenção humana, e também pela preocupação perante o eventual perigo para a saúde de um produto químico que pode aumentar as precipitações em até 20%.

Huang Peiqiang, antigo professor da Universidade de Indústria e Ciência do Exército Militar e especialista em Meteorologia, destacou que, embora a tecnologia esteja ainda em desenvolvimento, "não existe perigo para a saúde, pois foram feitos muitos testes".

Prejuízos
"Ainda precisamos de condições naturais como nuvens a certa altura e temperaturas abaixo de zero. Mesmo assim, a dúvida fica até que caia a primeira gota ou o primeiro floco", acrescentou Huang, após lembrar o fracasso de 1984, quando se tentou que o sol saísse no 35º aniversário da República Popular da China.

Xiao Gang, professor do Instituto de Física Atmosférica da Academia de Ciências da China, reconheceu a possibilidade de efeitos indesejáveis a longo prazo.

"Não deveríamos depender demais de medidas artificiais, porque há muitas incertezas no céu", afirmou.

As fortes nevascas, com temperaturas de até 10 graus Celsius negativos, causaram nos últimos dias no centro e no leste da China perdas superiores a US$ 120 milhões e afetaram três milhões de pessoas.

Folha de São Paulo
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