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Durante os períodos mais quentes entre as recentes eras glaciais, as temperaturas na Antártica alcançaram níveis substancialmente mais altos do que os cientistas haviam previsto anteriormente. Essa conclusão, baseada em estudos de amostras de gelo, implica que a Antártica Oriental é mais sensível do que se esperava ao aquecimento global.
Estimativas anteriores sugeriam que os picos de temperatura durante os períodos interglaciais de maior calor - que ocorreram há aproximadamente 125 mil, 240 mil e 340 mil anos - eram cerca de três graus mais quentes do que são hoje. Mas uma equipe liderada por Louise Sime, do British Antactic Survey, centro de pesquisa de Cambridge, Inglaterra, concluiu que a Antártica era na verdade cerca de seis graus mais quente.
A equipe embasou sua análise na proporção de isótopos de oxigênio e hidrogênio em testemunhos de gelo coletados na Antártica Oriental. Temperaturas atmosféricas mais quentes causam maior evaporação da água contendo isótopos mais pesados de oxigênio-18, ou deutério, do oceano ao redor. Ao cair no continente antártico e se juntar ao gelo, eles fornecem aos pesquisadores do clima um indicador das temperaturas do local em dada época.
Reconstruções climáticas normalmente supõem uma relação linear simples entre taxas de isótopo e temperatura. Mas a equipe de Sime afirma que apesar dessa relação se manter para os períodos glaciais, ela não funciona tão bem no calor interglacial.
Os cientistas mediram as taxas de isótopo em três amostras de gelo da Antártica Oriental, cada uma com pelo menos 340 mil anos de idade. Eles então compararam esses resultados com a previsão de distribuição de isótopos derivada de um modelo do clima global. Eles descobriram que maiores temperaturas médias eram necessárias para que as observações batessem com o modelo.
"A prova disponível apenas faz sentido se assumirmos picos de temperatura cerca de seis graus acima dos valores atuais", afirma Sime. ¿Não esperávamos isso de forma alguma."
A equipe acredita que a relação entre temperatura e composição isotópica de vapor d¿água muda à medida que o clima esquenta. Por exemplo, as assinaturas isotópicas de testemunhos de gelo dependem da distribuição sazonal de precipitação. Uma mudança na época do ano em que mais neva pode levar a distorções na reconstrução da temperatura, afirma Sime, cuja equipe relata suas descobertas na Nature.
Seis graus de problema
Diferente da Península Antártica em rápido aquecimento, o continente tem sido até agora relativamente resistente à mudança climática. Mas se reações do passado ao aquecimento forem um guia para o futuro, isso pode mudar.
"Não sabemos se o atual estado do sistema climático permitiria um aquecimento de seis graus na Antártica Oriental", afirma Sime, "mas não é impossível".
No ápice do último período interglacial, quando os níveis de gases-estufa eram bem similares aos valores atuais, o nível dos oceanos no mundo era 46 metros mais alto do que é hoje. As temperaturas na Antártica Oriental ainda eram frias demais para causar qualquer derretimento de geleiras por lá. Mas como o oceano em volta estaria mais quente, e o gelo marítimo estabilizador menos abundante, a massiva camada de gelo da Antártica Oriental pode ter contribuído para níveis oceânicos maiores, fluindo mais rapidamente em direção ao oceano.
As descobertas são impressionantes, afirma Gerhard Kuhn, geólogo marinho do Instituto Alfred Wegener para Pesquisa Polar e Marítima, em Bremerhaven, Alemanha, e representante do país no ANDRILL, um projeto internacional de perfuração de sedimentos na Antártica.
Embora cientistas saibam que os instrumentos para reproduzir os climas do passado nas latitudes polares estejam longe da perfeição, segundo eles, determinar a relação entre a razão de isótopos e a temperatura é essencial.
Sime acrescenta que cientistas ainda sabem muito pouco sobre o que aconteceu na Antártica durante climas quentes semelhantes ao nosso. "Estaríamos em melhor situação se soubéssemos."
Tradução: Amy Traduções
Nature News
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