Amorim diz temer que atitude climática "sem ambição" dos EUA contagie europeus

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Os Estados Unidos buscam receber tratamento de país em desenvolvimento nas negociações sobre o combate às mudanças climáticas em Copenhague, e existe o risco de outros países desenvolvidos "pegarem carona" nesta postura de Washington, avaliou nesta quinta-feira (10) o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

"No fundo, no fundo, os Estados Unidos querem tratamento de país em desenvolvimento", disse Amorim durante o programa de rádio Bom Dia Ministro.

"Talvez a gente até possa conviver com isso, melhorando um pouco. O problema é evitar que os outros países ricos --Japão, Canadá, Austrália e os países europeus queiram pegar carona nessa atitude e queiram ser tratados como países em desenvolvimento."

A meta anunciada pelos EUA, de cortar suas emissões de gases-estufa em 17 por cento até 2020 em comparação a níveis de 2005, é considerada pouco ambiciosa por países em desenvolvimento.

Os EUA não são signatários do Protocolo de Kyoto, que prevê que os países industrializados reduzam suas emissões de gases-estufa até 2012 em relação aos níveis de 1990.

A reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) iniciada na segunda-feira (7) em Copenhague, que vai até o dia 18 deste mês, tem o objetivo de atingir um acordo global sobre o clima que suceda Kyoto.

Exigências para os ricos
Amorim lembrou que o Brasil anunciou a meta voluntária de reduzir suas emissões de gases-estufa em até 38,9% até 2020, o que inclui o compromisso de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% nesse período, mas deixou claro que os países ricos precisam assumir compromissos obrigatórios para salvar o planeta.

"Mesmo que o Brasil faça tudo que se pede dele --que aliás é o que ele tem feito e até mais-- se os países ricos continuarem a poluir, a floresta amazônica vai acabar do mesmo jeito, porque o aquecimento global não vai permitir que o ecossistema se mantenha", disse.

"Por isso, nós temos que ser exigentes com os países ricos."

O ministro também comentou outro entrave nas negociações em Copenhague: o financiamento para que os países pobres possam enfrentar as consequências das mudanças climáticas.

A ONU e os países em desenvolvimento defendem a criação de um fundo de US$ 300 bilhões para esse fim.

"Obviamente os recursos financeiros têm que vir de quem tem mais", argumentou.

"Medidas amplas"
"O Brasil gostaria de receber recursos [...] até porque o Brasil vai tomar medidas muito amplas", disse.

"Só o que nós vamos fazer em matéria de redução de desmatamento [...] é mais do que os Estados Unidos se propõem a fazer, então é claro que vamos precisar de recursos."

Assim como o presidente dos EUA, Barack Obama, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai a Copenhague nos últimos dias da reunião de cúpula para tentar dar um impulso final para que se chegue a um acordo.

Em visita recente à Alemanha, no entanto, Lula reconheceu não esperar que o encontro na capital dinamarquesa termine com um "acordo dos sonhos".

Folha de São Paulo
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