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Os países gigantes emergentes querem recuperar a confiança das nações pobres pequenas na tentativa de retomar o bom andamento das negociações para o novo acordo do clima. Em reunião ontem em Nova Déli, ministros de ambiente do grupo Basic (Brasil, África do Sul, Índia e China), decidiram que o bloco vai dar contribuição financeira para países mais pobres lidarem com o aquecimento global e criar um comitê de auxílio científico.
O valor da contribuição conjunta ainda não foi anunciado, mas, segundo Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente do Brasil, deve ocorrer em breve. "Ontem, o que ocorreu foi uma reunião de ministros, e, naturalmente, o montante vai ser definido em conjunto com os presidentes", disse Minc à Folha, por telefone. "A ideia é que seja um contribuição idêntica para todos os países do Basic."
De acordo com o brasileiro, o gesto deve auxiliar os quatro gigantes emergentes a atraírem o G-77 (bloco diplomático com mais de 120 países em desenvolvimento) de volta à negociação do acordo do clima. Muitos dos países desse grupo se sentiram mal representados na conferência de Copenhague, em dezembro, e se recusaram a assinar o documento final da cúpula, que havia sido articulado pelo Basic e pelos EUA.
"Evidentemente, foi do G-77 que partiu a maior resistência, porque o processo foi pouco inclusivo e pouco transparente", diz Minc, que culpa a anfitriã Dinamarca por ter conduzido mal o debate. "Agora, o Basic quer avançar mais e quer voltar a se articular melhor com o G-77, que é de onde vem, também, a sua força política."
Segundo o ministro brasileiro, os quatro países criarão um comitê conjunto para ampliar a cooperação científica. O Brasil, que já fornece à África imagens de satélite para monitorar florestas, deve estender o serviço a outros países. A oferta, diz Minc, é necessária para que outras nações possam aderir aos programas de Redd (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação florestal), que oferecem compensação financeira a países que preservam suas matas como forma de evitar a emissão de gases-estufa.
As declarações de Minc ganharam reforço de seus colegas ministros após a reunião de ontem. Jairam Ramesh, da Índia, disse que quer buscar um "consenso com os países desenvolvidos", também. Xie Zhenhua, da China, concentrou seu discurso em cobrar dos países ricos o "dinheiro rápido" que haviam prometido para ajudar nações pobres a lidarem com o aquecimento global.
O valor acertado em Copenhague era de US$ 30 bilhões, em três parcelas anuais até 2012. Segundo Zhenhua, a primeira deve seguir para os países mais pobres, sobretudo os africanos e as nações-ilhas.
Os quatro ministros também anunciaram que vão cumprir o prazo estabelecido em Copenhague para que países em desenvolvimento definam suas propostas voluntárias de corte de emissões. "Nós [o Basic] temos a obrigação de sermos os primeiros a submeter os planos de ação", disse Buyelwa Sonjica, da África do Sul.
Outro bom sinal que o Basic deu aos países pobre pequenos foi sua posição com relação à proposta de reduzir o debate do novo acordo do clima a um grupo restrito de 28 países. Sugerida pelo chefe da Convenção do Clima da ONU, Yvo de Boer, para evitar tumulto diplomático, e apoiada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, a proposta foi criticada ontem.
"O Basic discutiu isso e rejeita a ideia", disse Minc. "Mas, isso não significa que não haverá articulações prévias entre grupos menores. Isso é que faltou em Copenhague." Várias reuniões devem acontecer até a próxima conferência do clima, no fim do ano, no México, diz.
Folha de São Paulo
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