Animais incomuns movimentam comércio para aquários nos EUA

Peixes nadam entre tentáculos de anêmonas
Nos recifes de coral das ilhas Key, na Flórida, muitos mergulhadores aproveitam o panorama e outros caçam com arpões, por esporte. Mas um terceiro grupo, bem pequeno, recolhe caranguejos de patas azuis, camarões-menta e outros invertebrados - não por diversão ou para comer, e sim para o comércio especializado voltado a aquários.

O total estimado de aquários caseiros de água salgada nos Estados Unidos é de 700 mil, e peixes tropicais acompanhados por algumas pedrinhas e um bonequinho vestido de mergulhador já não satisfazem a muitos desses colecionadores. Os peixes continuam presentes, mas, com os avanços da tecnologia e da técnica, os aquários agora cada vez mais se assemelham a um ecossistema de recife em escala reduzida, com coral vivo e pedras "vivas", e contendo camarões, anêmonas, ouriços do mar, caranguejos e caracois.


O resultado é um mercado crescente para esses e outros invertebrados de recifes, muitos dos quais fornecidos por cerca de 165 colecionadores licenciados pela Flórida. Os envolvidos nesse setor na Flórida afirmam que as práticas são sustentáveis e que a fiscalização é mais rigorosa do que em outros locais; licenças novas não são concedidas, há limites diários para capturas de exemplares de diversas espécies.

Mas os cientistas argumentam que as coleções representam ameaça aos ecossistemas que os colecionadores tentam reproduzir em seus aquários. Além do impacto bem conhecido do comércio sobre o coral vivo, os pesquisadores afirmam que a demanda por invertebrados - criaturas que, em um aquário, muitas vezes exercem as mesmas funções de limpeza e combate a pragas a que servem na natureza- pode se provar insustentável.

"Talvez estejamos elevando as capturas a um ponto que poderá precipitar uma crise irreversível", disse Andrew Rhyne, biólogo marinho da Universidade Roger Williams e do Aquário da Nova Inglaterra, e estudioso da fauna marinha da Flórida. "A questão é determinar qual seria esse ponto".

Se uma espécie sofrer captura excessiva, a ponto de causar declínio drástico em sua população, dizem Rhyne e outros, pode surgir um efeito-dominó no ecossistema. Sem os herbívoros invertebrados, por exemplo, um recife pode ser tomado por infestações de algas.

Jessica McCawley, bióloga da Comissão de Conservação da Fauna Terrestre e Marinha da Flórida, discorda quanto às ameaças aos animais marinhos. Ela ajudou a atualizar a regulamentação quanto a isso, no ano passado, e disse que "esses colecionadores são pescadores de um tipo especial. Preocupam-se demais com o meio ambiente e a sustentabilidade da pesca. E foram eles que nos procuraram para pedir regulamentação".

Os colecionadores também afirmam que os cientistas não têm experiência comparável à deles na observação dos ciclos de expansão e contração nas populações dos invertebrados.
Pete Kehoe, que recolhe espécimes marinhos em Key West já há 35 anos, recorda que, depois do furacão Ike, em 2008, ele localizou um recife no qual os caranguejos de patas azuis haviam sido totalmente eliminados. Os animais são valorizados nos aquários porque comem detritos, e ajudam a manter o coral limpo. "Mas não havia nem casca deles em todo o recife", disse.

No entanto, dois anos mais tarde os caranguejos se haviam recuperado e até expandido, de acordo com Kehoe. "Um dia desses estávamos no recife e alguém comentou que nunca havia visto tantos caranguejos juntos", disse. Embora reconheça que alguns colecionadores estão cientes dos riscos de exploração excessiva, Rhyne afirma que existem poucos estudos científicos sobre os caranguejos de patas azuis e sobre as centenas de outras espécies que costumam ser recolhidas, entre as quais as 15 que costumam responder por mais de 90% dos animais apanhados.

Por exemplo, no caso de certos caracois não se sabe quanto tempo eles precisam para começar a se reproduzir. Caso o prazo seja superior a um ano, recolher grande número deles do mesmo local ano após anos pode ser desastroso. Há muitas espécies que provavelmente não preocupam, disse Rhyme, mas acrescentou que "não creio que uma pessoa possa usar a palavra 'sustentável' quando não se sabe o suficiente sobre um animal".


The New York Times
Foto: The New York Times
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