A qualidade do ar em regiões da Grande São Paulo piorou no primeiro trimestre por causa do ozônio, informa Eduardo Geraque

Ecoturismo & Sustentabilidade

As soluções propostas pelos países ricos para combater o aquecimento global, como os mecanismos de comércio de cotas de emissão de carbono, são paliativas e vão prejudicar as nações mais pobres, segundo cientistas reunidos na Conferência Mundial dos Povos para a Mudança Climática, em Cochabamba, na Bolívia. A ciência do clima ocupou o centro de metade dos painéis realizados no primeiro dia do evento, na terça-feira (20/4).


A reportagem é de Charles Nisz e publicada pelo sítio Opera Mundi, 21-04-2010,

Em um painel sobre descobertas científicas as mais recentes sobre as mudanças climáticas, o climatologista cubano Ricardo Navarro comentou algumas das alternativas para enfrentar as mudanças climáticas. Segundo ele, a temperatura da Terra aumentou 0,8 grau centígrado no último século e 85% desse aumento se devem à queima de combustíveis fósseis. Os outros 15% aconteceram por mudanças no uso da terra na agricultura.

Historicamente, disse Navarro, a Terra tinha uma concentração de 180 a 300 ppm (partes por milhão) de CO2 (dióxido de carbono) na atmosfera. Nos dias atuais, essa concentração é de 390 ppm. Segundo o pesquisador cubano, iniciativas como a venda de créditos de carbono e os mecanismos de REDD (redução de emissões do deflorestamento e desmatamento) não irão resolver o problema do aquecimento global. De acordo com ele, essas são medidas paliativas e o planeta precisa de soluções adequadas e permanentes.

“Essas medidas são uma farsa para manter o comércio sobre o carbono. E os REDD serão usados para expulsar os índios de suas terras, pagar aos países pobres para não emitirem mais CO2 e assim, permitir que os países industrializados continuem emitindo”, criticou Navarro.

Outro exemplo de solução paliativa apontado pelo cubano é o uso de enxofre no combustível dos aviões para criar uma “capa” protetora para a Terra e, assim evitar os efeitos da radiação solar. “No entanto, o uso de enxofre pode ocasionar a criação de ácido sulfúrico na atmosfera e esse composto é precipitado na forma de chuva ácida”, explicou.

“Baixar as emissões tem a ver com mudanças no transporte e na alimentação humana”, disse Navarro. “A pecuária emite mais CO2 do que todas as modalidades de transporte e por isso devemos rever a produção de carne e incentivar a produção agrícola local e sustentável”.

Amazônia

Segundo o pesquisador norte-americano radicado no Brasil Irving Foster Brown, os 40 milhões de pessoas que habitam a Amazônia “serão as primeiras a serem afetadas pelas mudanças climáticas”. Ele explicou que o sudoeste da Amazônia (Rondônia, Acre, Mato Grosso, norte da Bolívia e do Peru) é a área do mundo onde essas mudanças estão acontecendo mais rápido. A região vem sofrendo desmatamentos contínuos há décadas para dar lugar à monocultura da soja.

Brown, que é professor da da UFAC (Universidade Federal do Acre), acredita que as mudanças climáticas são parte de um conjunto de problemas interconectados. Para o cientista, uma das maiores dificuldades da ciência do clima é descobrir quais são as causas naturais do problema e onde começa a ação humana. Mas os indícios da interferência humana são fortes, lembra ele, pois os ciclos naturais são longos e boa parte do aquecimento global aconteceu nos últimos 200 anos.

Na fala bem humorada do cientista, até pouco tempo atrás, o sudoeste da Amazônia era visto como “o fim do mundo” para as populações urbanas de Brasil, Bolívia e Peru. Hoje, é um centro de transporte e de geração de energia para os três países. Exemplo disso é a Rodovia Transoceânica, ligando Brasil e Peru, com objetivo de incrementar o comércio entre esses países e escoar as exportações brasileiras pelo Oceano Pacífico. No entanto, há cerca de 4 mil quilômetros de rios navegáveis em cujas águas o Brasil poderia transportar a sua produção agrícola, liberando muito menos dióxido de carbono.

Outros empreendimentos na região são as hidrelétricas – três delas no Brasil: Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. Somados, os investimentos em infraestrutura na região alcançam o montante de 15 bilhões de dólares. Segundo Brown, as mudanças climáticas não foram consideradas no planejamento dessas e outras quatro usinas hidrelétricas previstas para serem construídas nos próximos anos na região.

Efeitos do clima

De acordo com pesquisas citadas por Brown, o desmatamento na Amazônia afeta o regime de chuvas na região sudeste, pois 60% da umidade produzida na região norte chegam ao centro-sul do Brasil. Outra pesquisa, feita com os moradores do sudoeste da Amazônia, mostra uma visão pessimista sobre o meio ambiente: eles acreditam que no futuro “teremos mais calor, mais secas e grandes alterações nos rios da região”.

Em 2005, o estado do Acre enfrentou uma forte seca e as matas começaram a pegar fogo espontaneamente, devido ao calor. Cerca de 330 mil hectares de florestas foram perdidos. Cada hectare de floresta é avaliado em 500 dólares, totalizando prejuízo no valor de 165 milhões de dólares – sem contar os danos não-materiais.

O professor da UFAC lembra que as secas não causam prejuízos apenas à diversidade florestal e aos cofres do Estado elas podem causar tantas emissões de gases do efeito estufa quanto o desmatamento.

Soluções

Também no debate, o climatologista norte-americano James Hansen, diretor do Instituto Goddard, da Nasa (agência espacial dos EUA), e o ambientalista Bill McKibben alertaram para o aumento dos perigos em consequência do aquecimeto global e destacaram como as ações humanas geram respostas cada vez mais fortes do sistema climático.

Para Hansen, “o público não é bem informado sobre os perigos causados pelas mudanças climáticas nem quem elas já estão ocorrendo”. Um desses sinais, lembra ele, é o derretimento das geleiras dos polos e das cordilheiras num ritmo maior que o usual. A outra evidência é continuada a extinção de espécies de animais, afetando todo o ecossistema.

“Precisamos focar na mitigação das emissões de carbono. Mas os governos não estão agindo suficientemente para lidar com essa situação”, alertou Hansen, considerado um dos cientistas mais respeitados na área de climatologia e aquecimento global.

Portal EcoDebate
0 Responses