Tempo da diplomacia não voa

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Terminou neste domingo uma reunião em Bonn, na Alemanha, com representantes de 175 países que tentaram dar continuidade às negociações frustradas da Conferência do Clima de Copenhague (COP15), em dezembro passado. Como resultado, só a confirmação de que ainda não será em 2010 que veremos um acordo climático forte. Países desenvolvidos e em desenvolvimento concordaram em se reunir pelo menos duas vezes no segundo semestre deste ano para maiores detalhamentos nas propostas de cada um, a fim de que em novembro, durante a COP16, em Cancún, no México, as chances de sucesso sejam maiores do que o que se viu na Dinamarca.


A reunião, que durou três dias, pretendia nas palavras de Saleemul Huq, pesquisador do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (IIED, em inglês), reunir os cacos de Copenhague e ver o que podia ser transformado em um acordo global sobre o clima no México. E se voltou muito mais a procedimentos do que propriamente discussão do conteúdo das negociações.

Apesar disso, a maioria dos países concordou que para que haja um acordo, é mais realístico propor números menos ambiciosos e garantir, pouco a pouco sucesso na transferência de tecnologia e recursos financeiros para adaptação e compensação de projetos de redução de emissões por desmatamento e degradação (REDD). A propósito, é o compromisso em dinheiro, na opinião de Huq, que será capaz de “colar” os ‘cacos” de Copenhague ao longo de 2010. E isso depende, sobretudo, do funcionamento de mecanismos de monitoramento e verificação da aplicação desses recursos nos países mais vulneráveis, para que novas levas sejam liberadas anualmente.

Compromisso fraco basta para os Estados Unidos

O que vale, por enquanto, é o compromisso voluntário dos países em desenvolvimento no repasse de 30 bilhões de dólares de 2010 a 2012 para ajudar os em desenvolvimento a enfrentar eventos extremos como enchentes, secas, deslizamentos e aumento do nível dos oceanos. E a expectativa de que essa ajuda se transforme em 100 bilhões de dólares anuais em 2020. Isso, perto dos recursos disponíveis e do grau de comprometimento para outros negócios nada sustentáveis dos países, ainda é considerado muito pouco.

Recentemente, o jornalista do jornal britânico Guardian, John Vidal, que em Copenhague obteve em primeira mão os documentos vazados que geraram um altíssimo grau de desconfiança entre ricos e pobres, escreveu um artigo mencionando outro documento interno do governo de Barack Obama “deixado acidentalmente num computador de hotel” que, segundo ele, demonstra quão controversa é a estratégia americana na negociação climática.

O documento, de março de 2010, revela como os Estados Unidos pretendem mostrar ao mundo que estão engajados para combater as mudanças climáticas. Fala de um “gerenciamento de expectativas” no final da conferência de Cancún, envolvendo contatos informais da imprensa com os negociadores americanos para desarmar os críticos. E ainda menciona que se pretende criar um entendimento claro de que todos os elementos do Acordo de Copenhague sejam operacionalizados. Isso, para Vidal, é um exemplo da política de “pegar ou largar” que os Estados Unidos querem impor, considerando o fraco resultado de Copenhague como o maior avanço que se tem até aqui na negociação e desconsiderando outros esforços tão ou mais ambiciosos obtidos em conferências anteriores.

India, China e Brasil não concordam com esse posicionamento, e consideraram em Bonn que o Acordo de Copenhague não pode ser usado como base legal justamente porque é fraco demais.

Contando seus últimos dias para deixar o posto, Yvo de Boer, secretário-executivo das Nações Unidas para as negociações climáticas, pediu comprometimento concreto dos governos, mas admitiu que o resultado desejado não sairá no México. “Eu acho que em Cancun poderemos concordar sobre a arquitetura operacional, mas transformar isso em um tratado, se esta for a decisão, vai levar mais tempo”, declarou ele.

O Eco
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