Setor elétrico lança plano para cortar CO2 no Brasil

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As principais empresas responsáveis por produzir e distribuir energia elétrica no Brasil apresentaram ontem um conjunto de propostas para a política do país sobre mudanças climáticas. Os oitos pontos do documento misturam a intenção de usar o potencial brasileiro de energia limpa como vantagem nos acordos internacionais e a determinação de evitar que o corte de emissões afete o crescimento econômico.

O documento diz que as diretrizes devem permitir "uma nova forma de desenvolvimento com baixo carbono, resguardando o desenvolvimento". Nos últimos 15 anos, a geração de energia no Brasil ficou 30% mais suja, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente.

A elaboração do texto coube ao Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico, que reúne 14 entidades da área, como a ABCE (Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica). A ideia é que as propostas sejam consideradas pela delegação brasileira na cúpula da ONU sobre o clima em Copenhague, em dezembro.

"O que nós queremos é a manutenção da matriz energética limpa do país, até porque o Brasil já é uma economia de baixo carbono", diz Silvia Calou, diretora-executiva da ABCE.

Daí uma das propostas mais ambiciosas dos signatários do documento: avaliar a contribuição de diferentes fontes energéticas para produtos brasileiros e criar um selo que indique a proporção de fontes renováveis na cadeia de produção.

O grupo também afirma já ter colocado em andamento um estudo para determinar em que proporção as usinas hidrelétricas, apesar da fama de limpas, também emitem metano, um gás causador do efeito estufa 21 vezes mais poderoso que o gás carbônico. "Hoje há uma limpeza das árvores na área a ser alagada para a usina, o que impede que a madeira se decomponha e produza metano", especula José Simões Neto, presidente da ABCE.

O grupo também defende que, por causa da imprevisibilidade do clima que o aquecimento global já está trazendo, o Brasil deveria repensar a política de construir apenas usinas hidrelétricas de fio d'água (que não exigem a inundação de grandes áreas para a construção de reservatórios).

"Estamos fazendo isso na contramão da tendência internacional. Mas, numa grande seca, usinas sem reservatórios fragilizam a matriz energética", afirma Calou. Pelo mesmo motivo, diz, é importante obter parte da energia de termelétricas, consideradas "sujas".

"Acreditamos também que é preciso focar as reduções de emissões do Brasil na queda do desmatamento, mas é preciso tomar muito cuidado com a ideia de desmatamento zero, porque isso pode amarrar justamente a construção de novas hidrelétricas", diz Calou.

Reinaldo José Lopes
Folha de S.Paulo
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