Lula se diz frustrado e oferece ajuda para fundo climático de US$ 100 bi

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira em Copenhague, na Dinamarca, que está frustrado com a falta de um acordo pela redução de emissão de gases do efeito estufa. Lula também disse que o Brasil está disposto a oferecer ajuda ao fundo global de US$ 100 bilhões para ajuda aos países pobres, conforme antecipou a Folha na última quarta-feira.

Lula fez um discurso duro, no qual criticou as barganhas dos países ricos e alertou para a intromissão deles nos países em desenvolvimento, utilizando como "desculpa" o investimento no fundo de US$ 100 bilhões.

Os Estados Unidos propuseram o fundo que ajude os países pobres a lidar com a mudança climática, mas condicionou a contribuição a uma "transparência" dos países envolvidos. Uma oferta como essa era esperada pela delegação brasileira, que achava difícil metas de corte maiores dos EUA.

"Os países têm direito de exigir transparência, exigir o cumprimento da política financiada. Mas precisamos tomar cuidado com esta intrusão nos países em desenvolvimento, nos países mais pobres. A experiência que temos como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial nos nossos países, não é recomendável que continue a acontecer no século 21", alertou Lula.

"Vou dizer uma coisa que não disse no meu país, se for necessário fazer um sacrifício a mais, o Brasil está disposto a colocar dinheiro também para ajudar os outros países", completou.

Diante das dificuldades para um acordo nos primeiros dias de Copenhague, o presidente Lula já apostava em um aporte de dinheiro público dos EUA para um fundo global que bancaria o corte das emissões de gases-estufa e a adaptação à mudança climática.

Além do Brasil e dos EUA, o Japão e a União Europeia também já se comprometeram em ajudar a construir esse fundo, considerado importante para responder às necessidades de adaptação dos países em desenvolvimento aos impactos da mudança climática e a atenuação de suas emissões.

Dinheiro não resolve
Lula alertou ainda que, apesar dos benefícios do fundo global, "o dinheiro não resolve o problema, não resolveu no passado, no presente e muito menos resolverá no futuro".

"Não pensemos que estamos dando esmola. Porque o dinheiro que vai ser colocado na mesa é o pagamento pela emissão de gás estufa feita durante dois séculos por quem teve o privilégio de industrializar primeiro", disse Lula, interrompido por fortes aplausos da audiência.

Lula ressaltou ainda que considera Copenhague um "compromisso sério", cujo objetivo é saber "se é verdadeiro ou não o que os cientistas estão dizendo que o aquecimento global é irreversível". "Portanto, quem tem mais recursos, precisa garantir a contribuição para proteger os mais necessitados".

"Todos nós poderíamos oferecer um pouco mais se tivéssemos assumido boa vontade nos últimos tempos", disse Lula, que olhou diretamente para a mesa ao lado do palanque, com os líderes da cúpula. "E mesmo as metas que deveriam ser uma coisa mais simples, tem muita gente querendo barganhar".

Metas
Lula falou ainda das metas brasileiras para combater o aquecimento global e reiterou que, até 2020, o Brasil vai reduzir as emissões de gases do efeito estufa entre 36,1% e 38,9% em referência ao que manteria sem nenhuma política ambientalista.

Esta mudança, explicou Lula, será baseada em mudanças consideradas "importantes para o Brasil": a mudança no sistema de agricultura, no sistema siderúrgico e o aprimoramento da matriz energética "que já é uma das mais limpas do mundo".

"E assumimos ainda o compromisso de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80% até 2020. E fizemos isso, construindo uma engenharia econômica que obrigará um país em desenvolvimento com muitas dificuldades econômicas a gastar, até 2020, US$ 166 bilhões", afirmou Lula.

"Não é uma tarefa fácil, mas foi necessário tomar estas medidas para mostrar ao mundo que com meias palavras e barganhas, a gente não encontraria solução nesta conferência de Copenhague".
Esse montante também é considerado necessário pela Comissão Europeia para responder às necessidades de adaptação dos países em desenvolvimento aos impactos da mudança climática e a atenuação de suas emissões.

Folha de São Paulo
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