Turfeiras da Amazônia são drenos desconhecidos de carbono


A floresta amazônica é um dos pontos principais das discussões sobre as mudanças climáticas porque, caso continue sendo devastada, causará emissões significativas de gases de efeito estufa.

Que a mata constitui um imenso reservatório de carbono já se sabe há muito tempo. Mas a pesquisadora Outi Lähteenoja, da Universidade de Turku, na Finlândia, junto com outros cientistas, iniciou estudos que apontam que a região pode ter um outro dreno importante de carbono: as turfeiras.

Tratam-se de ecossistemas com água parada onde folhas e troncos de árvores que caem no chão não se decompõem completamente porque falta oxigênio para que os microorganismos trabalhem. Assim, o carbono que contêm não é liberado para a atmosfera.

Lähteenoja esteve em 17 pontos identificados em imagens de satélites como possíveis locais de acúmulo de turfa na selva peruana e, em 16 deles, confirmou sua presença.

“Antes se achava que não havia quantidade significativa delas na Amazônia”, disse, em entrevista ao Globo Amazônia. A cientista aponta que cálculos indicam que pode haver até 150 mil km² de turfeiras na região amazônica. Durante seu trabalho de campo, foram localizadas áreas de turfa com até seis metros de profundidade.

Grande parte das turfeiras do planeta está localizada em regiões de clima mais frio, como a florestas temperada ou a tundra. Em décadas recentes, contudo, foram descobertas grandes turfeiras em florestas tropicais do sudeste asiático. Elas são importantes reservas de carbono da atmosfera.

Outi aponta que as turfeiras amazônicas ainda são muito pouco conhecidas, por isso não é possível dizer quanto carbono acumulam. “O artigo que escrevi é praticamente o único que existe sobre elas”, conta. “Elas podem ter uma quantidade significativa de carbono em comparação a outras turfeiras tropicais’. Ela gostaria de, futuramente, também pesquisar a turfa na Amazônia brasileira.

O estudo da turfa é complicado porque ela se situa muitas vezes em lugares remotos da floresta. A finlandesa e sua equipe viajaram dias de barco a partir de Iquitos, principal cidade amazônica no Peru, para chegar às turfeiras.

Globo Amazônia
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